9 November 2009

9 de Novembro de 1989

Tal como nos propusemos fazer, cada uma de nós escreveu sobre 9 de Novembro de 1989:
Por Echo
O Mundo celebra hoje os 20 anos sobre a queda do muro de Berlim…. A queda da grande “barreira de ferro”, uma ocasião com os mais diversos sentidos e representações…o fim da guerra fria, o anunciado fim do sistema comunista ou a vitória do imperialismo e, numa visão europeia, o necessário passo para uma Europa reunificada…
Dois elementos de paralelismo com Portugal chamaram a minha atenção. Em primeiro lugar encontramos o facto de ambas serem revoluções pacíficas que “destronaram” dois regimes de mais de 40 anos totalmente estabelecidos. Numa outra nota, o sentimento da reaproximação daquele que era um só povo mas cujas diferenças inerentes a ambas as comunidades onde viviam, trouxe ao de cima um sentimento de inadaptação e ressentimento de parte a parte, que foi sentido por ambos os lados do muro de Berlim e ainda por muitos “retornados” das nossas ex-colónias.
Não queria apresentar uma visão política, europeia ou internacional, sobre o tema. Interessou-me essencialmente a reeducação social e pessoal de quem se encontrava dos dois lados de uma divisória de meros metros que criou dois mundos tão diferentes entre si que mais poderia ser um caso de ficção científica. Foi por feliz acaso que olhando para a Publica de Domingo me deparei com o testemunho directo de quem passou por aquele que é, até aos dias de hoje, um dos momentos históricos desta geração.
Se a sensação inicial de ambas as partes do muro foi a de reunificação de um Povo a verdade é que houve um verdadeiro choque cultural. Quem pertencia à anterior RDA necessitou de reaprender a sobreviver numa sociedade onde o pessoal se sobrepõe ao comunitário e muitos não se sentiram preparados para, na rapidez que lhes foi imposta, se auto propor ao necessário reexame da sua vida até então. Já da parte da RFA foi necessário compreender que a queda do muro e a desejada reunificação de ambos os lados representaria uma adaptação e esforço (ainda que para o Oeste seja mais do ponto de vista económico) que teria de ser realizado de parte a parte.
Inicialmente o grande impacto foi a abertura a um mercado e cultura de capitalismo ocidental. As pessoas de Leste foram recebidas naquelas primeiras horas com champanhe e apesar de ser notória a diferença entre as pessoas que compunham ambos os lados, expressavam verdadeira alegria. É interessante ouvir as histórias de como o Leste ficava à espera da abertura das primeiras lojas olhando incessantemente para as vitrinas que continham todos os produtos a que não tinham acesso ou cujo acesso era fornecido através de “produtos brancos” criados pelo Estado, cujo exemplo provavelmente mais conhecido por todos nós seja a vita-cola (imitação da RDA da Coca-Cola). No entanto, ao mesmo tempo ouvimos diversos relatos em como a existia uma sensação de vergonha pelo deslumbramento sobre os produtos inacessíveis que raiava quase o incompreensível para a comunidade da RDA, tais como o facto de as pessoas virem com quantidades incompreensíveis de sacos de plásticos (na RDA apenas existiam sacos de papel) a velha piada da banana, produto inacessível na RDA. Por outro lado encontramos relatos em como o Oeste atravessava o muro como quem realiza uma excursão de turismo apontando para os locais, a falta de actualização com os tempos, as pessoas e as coisas que elas usavam, sentindo que entrava num qualquer estúdio cinematográfico que representava Berlim de há 20 anos.
Houve que ultrapassar o sentimento de inferioridade cultural/económica por parte de quem viria da RDA. Ainda hoje a Alemanha de Leste é considerada pobre e vazia e a Alemanha de Oeste rica e jovem. Muitos dos mais novos cidadãos de Alemanha de Leste quando questionados sobre o que irão fazer quando forem mais velhos lhe responderão que irão partir para o Oeste (para onde e fazer o quê especificamente não é o mais importante, o mais importante é ir para o Oeste ainda considerado o moderno e o futuro). Caso um pouco diferente encontramos na própria cidade de Berlim em que o lado Leste é o lado considerado cool, onde as casas são mais caras e onde qualquer jovem que viver – um pouco como a juventude de Lisboa e os antigos bairros populares da cidade.
Mas não foi somente esta abertura cultural ao resto do mundo que se apresentou com a queda do muro, foi ainda a necessidade de quem pertencia à antiga RDA de reaprender a deixar de depender num estado de providência que tomava nas suas mãos as decisões e escolhas do programa educacional, social e politico de uma sociedade. Indicador desta necessidade é uma pequena história de um homem que dirigindo-se a uma livraria procurava um livro, mas quando atingida a sua prateleira deparou-se com sete livros do mesmo autor. “Fiquei sem saber o que fazer, e saí de lá sem nenhum livro, muito deprimido por não conseguir lidar com a situação.” Muitos não se conseguiram encontrar numa sociedade em que teriam que mudar radicalmente e num curto espaço de tempo o que teriam vivido em quarenta anos onde a vida se encontrava programada pelo poder, um terceiro acima do povo. A indicação inicial de que viria a caminho um futuro e uma terra prometida colapsou perante uma vaga de desemprego que atingiu a ex-RDA. O povo do Leste teve de enfrentar e enfrenta ainda hoje a desertificação da população jovem, o desemprego e a incapacidade de produção de forma igualitário a nível nacional. Por seu turno o povo do Oeste, tem de compreender que com a reunificação existe a necessidade de reconstrução que é da obrigação de ambos os lados e não utilizar a ajuda financeira que ainda hoje é entregue pelo Oeste como motivo de ataque. Aliás muito se perdeu com a falta de abertura político-social do Oeste. Ainda que imperfeito na sua totalidade a realidade é que o sistema implementado no Leste apresentava diversos sectores de sucesso, que não souberam ser reaproveitados ou adquiridos pelo Oeste tais como o sistema de educação e implementação de diversos benefícios sociais.
Um dos testemunhos de um cidadão de Berlim Oriental que li pareceu-me transpor esta mensagem em poucas palavras: “Eu não tive de mudar quem era quando houve a reunificação (…) Eles tiveram de mudar quase tudo. Tiveram de desistir da solidariedade para enquadrar na nova sociedade. E nem todos tiveram resposta para a questão de quem eram então, depois de não poderem ser quem foram durante 40 anos.”
A principal lição a reter dos factores sociais da queda do muro de Berlim não se remete somente ao facto de que não basta que a população deseje se auto-retirar de um sistema que não permite a sua total liberdade, é necessário compreender que tal adaptação poderá mesmo demorar o dobro do tema que o sistema de que se libertaram se encontrou estatuído. É ainda necessário relembrar que só porque não compreendemos o sistema num todo não deveremos retirar-lhe a possibilidade de demonstrar e manter vivo aquilo que se apresenta como uma mais-valia para o povo que o compõe, cujas expectativas, ainda que para nós incompreensíveis em tempos de mudança deverão ser compreendidas e se possível preenchidas…Hoje, mais que ontem, com a incursão mais ou menos pacífica do ocidente, em diversos pontos do mundo, esta compreensão, adaptação e ajuste de sistemas é uma lição a retirar do Muro.
Echo
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Por M.
Ainda que simbolicamente, o muro erguido em Berlim significava o muro erguido no mundo que o dividia em 2 pólos.
O conflito dito latente que pairou no mundo desde o fim da II Guerra Mundial alimentou muitos e trágicos conflitos indirectos - pensemos na guerra da Coreia ou do Vietname - que tanto de “latente” como de “frio”, na minha opinião, tiveram pouco.
A União Soviética e os Estados Unidos da América apoderaram-se do Mundo e fizeram dele o palco das suas batalhas.
Viveu-se no equilíbrio do terror e não chegou, de facto, a acontecer o que mais se temia, uma nova Guerra Mundial termo-nuclear capaz de destruir a Humanidade.
Episódios sangrentos do conflito EUA vs. URSS/URSS vs. EUA tiveram lugar mundo fora, exemplos clássicos serão o Vietname, a Coreia e o Afeganistão. Leio “os Estados Unidos da América perderam a guerra no Vietname”, “a Rússia perdeu no Afeganistão”, mas verdadeiramente não foram nem os EUA nem a então União Soviética que perderam ou ganharam aquelas batalhas, cujo palco estava misplaced, foram os vietnamitas, foram os afegãos, foram os coreanos, foram todas as pessoas (não importa a sua nacionalidade) que, sem escolha, tiveram de fazer de figurantes num teatro que não lhes dizia respeito, não directamente.
Em nome da liberdade, o muro caiu, o de Berlim. Outros, ainda que invisíveis, continuam bem firmes e altos – como é evidente no Médio Oriente.
20 anos depois a Alemanha ainda vive no rescaldo do que foi a "separação de Berlim", mas a liberdade que se afirmou com a queda do muro não se atenua, antes progride.

O mundo já não é bipolar e a Europa faz-se ouvir cada vez mais “a uma só voz”, os Estados Unidos, com o fim da administração Bush, já não estão de costas voltadas para o multilateralismo e abandonaram o sonho perigoso da hegemonia unipolar que provocava novas bipolaridades, quanto à Rússia receio o reacender de um nacionalismo eventualmente agressivo.
Fracassos, como os vividos na Bósnia e no Ruanda mancham a “lição europeia”, mas sucessos houve, como Timor e Kosovo, que a revigoram e permitem crer na construção progressiva de um mundo capaz de dar um sentido multilateral à multipolaridade, um Mundo em que os pólos não preparam a guerra aniquiladora, mas que encontram na interdependência a e a força para a cooperação internacional e que cria as condições para um esforço conjunto pela defesa dos direitos humanos. Em suma, um Mundo que faz da intervenção militar um último recurso.
Utopia dirão alguns, mas não eram considerados utópicos ou fantasistas os que, há mais de 20 anos, acreditavam que o Muro de Berlim podia cair e os países do Pacto de Varsóvia integrarem-se na Europa Comunitária?
M.

20 comments:

Unknown said...

Como se comenta um artigo sobre um evento especifico, no tempo e no espaço, mas que agrega todo um fio condutor "as far as memory can reach"?

Sou, como era na altura, uma total ignorante, admito. Aos nove anos desconhecia a importância daquele dia, recordo-me do album dos Pink Floyd e do terror de sonhar com um muro que podia surgir do dia para a noite e privar-me da minha familia...

Nada mudou... Continuo, e ouso dizer que a maioria continua, ignorante sobre o nosso passado o que explica como hoje alguns tenham a "liberdade" de repetir o feito!
Irlanda, Chipre, Espanha,Coreia, India, México,Brasil,Israel...os muros multiplicam-se!

No entanto, quando hoje revejo imagens de homens e mulheres a esventrar o betão, por vezes com as próprias mãos, penso, talvez iludida, que nesse dia nos tornámos mais humanos...

P.s.- M. sorry mas não considero o caso Timor e Kosovo casos de sucesso, sucesso são aqueles casos em que a palavra genocidio não consta da história recente...

Unknown said...

Echo... Goodbye Lenin!;)

Unknown said...

Por achar que o país Alemanha me diz muito, acredito que a queda foi mais do que simbólica sem, contudo, ter sido tão vasta como nos fazem acreditar... mas a queda do muro foi um passo para um futuro...

Lucha said...

Este muro caiu há 20 anos. Foi sinónimo de queda de um muro que significava comunismo, opressão, estagnação. Mas ainda há muitos muros para derrubar.

LP said...

Entre las muchas cosas que lei y escuche entonces, recuerdo sobre todo un articulo en The Guardian (yo estaba en Londres aquel dia), que decia que el muro lo habian derribado las empresas occidentales en busca de nuevos clientes.

El muro caido nos dejo sin dicotomia politica, huerfanos del otro lado de la ideologia, incapaces ya de poner limites al capitalismo. Nuestra mente binaria tal vez no haya superado el trauma, y facilmente se nos impuso la guerra contra el terrorismo.

Sabremos ahora que se cae otro muro del terror construir por fin una concepcion del mundo sin enemigos?

o mesmo de sempre. said...

voces sao espectaculares, sao super criativas,pertinentes e com assuntos super interessante mas...nao descurem a parte visual. ao final do dia ó letras cinzentas em fundo preto..ja custa.
abraços!!!

Sandra Pereira said...

A queda do Muro de Berlim foi, há 20 anos, uma libertação e deve, hoje, ser um apelo a todos para que, juntos, possamos combater as opressões que ainda existem.
As comemorações vividas hoje, um pouco por todo mundo, devem consciencializarmos de que ainda há muitos muros a derrubar pelo mundo inteiro, os quais ainda dividem muitas cidades, territórios, povos...mentalidades e consciências:)

Kévin Magron said...

La chute du mur, c'est mon entrée dans l'histoire. A dix ans, je découvrais pour la première fois le monde extérieur, je comprenais que quelque chose se passait en regardant la télévision. Le mur tombait et je naissais dans ma relation aux autres, aux évènements. J'ai trente ans, mais avec la chute du mur, ce soir on a tous 20 ans!

madalenamv said...

A queda do muro é o fim da guerra fria, do mundo bipolar, mas é também o fim de uma europa dividida, de uma alemanha dividida, de uma cidade dividida. É o começo de uma verdadeira europa unida.

Se 20 anos depois na europa não temos se não coisas positivas a relembrar desse 9 de novembro. Infelizmente há outros muros que se constroem noutros lugares do mundo - jerusalém... México/EUA... Para falar apenas de muros em pedra.

Contudo não posso deixar de acabar numa nota positiva.

Hoje diríamos, parafraseando JF Keneddy:
"All free men, wherever they may live, are citizens of Berlin, and, therefore, as a free man I take pride in the words "Ich bin ein Berliner""

André Rodrigues Santos said...

Hallöchen aus Berlin!
Ich hatte das Glück hier zu sein neste dia da celebração dos 20 anos da queda do Muro de Berlin.
Muito me agradam todos os ideais ligados à queda do muro: liberdade de expressão, igualdade, não existência de barreiras físicas a separar povos - neste caso um país - mas apesar de me considerar muito positivo e optimista e de saber da importância histórica da queda deste muro e das consequências políticas inerentes, creio que tal como acontece em Portugal, a humanidade tem dificuldade em inscrever as suas aprendizagens. Não vos vou maçar com os restantes muros existentes (e em construção).Alegro-me com a Alemanha estar reunificada, alegro-me com o facto da Europa não ter mais uma cortina a dividi-la. Acredito na celebração desta data. Noutra oportunidade (hoje é dia de festa e acabo de chegar das celebrações) falarei do que para mim a palavra Liberdade significa, onde o nome, a cor da pele, a profissão, o estatuto social, a raça, etc., são postos de lado. Conseguirá algum dia a humanidade atingir isso? Estamos melhor hoje? Creio que sim. Estamos ainda muito longe? Demais..
Rememos!Eu cá vou combatendo as minhas guerras, em paz!
Grüße aus Berlin.
André Santos.

MR. said...

É um exercício impossível, apesar de intelectualmente estimulante, procurar saber qual foi o acontecimento histórico que pôs fim ao totalitarismo soviético, qual foi o grão de areia que fez desmoronar o castelo do terror. Impossível, porque, como disse Jorge Luís Borges, os grandes momentos da história são secretos e discretos- mesmo envergonhados. Estimulante, porque cada um de nós procura o momento decisivo que gostaria de encontrar. Por isso me agradam, particularmente, dois momentos, um cinematográfico e outro o do rebate de consciência de um homem. No Cinematográfico, o momento decisivo foi a colagem, nas ruas de Varsóvia, do cartaz da campanha de Solidariedade com Gary Cooper, no famoso filme High Noon, que deu a vitória aos democratas nas primeiras eleições livres na Polónia. No outro Gorbachev, depois de nomeado secretário geral do partido Comunista, em 1985, no seu gabinete lê um documento secreto onde está escrito que a União Soviética considera que as armas nucleares devem ser utilizadas numa guerra com o Ocidente. Horrorizado, disse à sua adorada mulher, Raisa Tintarenko, que tinha decidido pôr termo a toda a possibilidade de Guerra.
De todos os homens de 1989 o mais extraordinário foi Gorbachev, um herói solitário, como Gary Cooper, que meteu a pistola no bolso e mudou o Mundo. Oxalá, muitos lhe sigam o exemplo!

manuel said...

Confesso que pouco sabia da história da queda do muro, e mesmo depois de ver por duas vezes um documentário francês que ainda ontem passou na sic notícias e que há uns dias tinha passado na 2, continuo a ter algumas dúvidas sobre a forma repentina como "ele" caiu.
Marcantes foram as palavras de um responsável por um dos postos de controlo de passagem da antiga RDA para a RFA: "pela primeira vez senti-me abandonado pelos meus comandantes. Desliguei o telefone virei-me para os meus homens e disse-lhes que abrissem as cancelas. De seguida fiz o telefonema que em toda a minha vida me custou mais a fazer. Meu Coronel não mais pude suster o avanço das pessoas e mandei abrir as cancelas, ao que ele me respondeu: "fizeste bem meu rapaz"".
Senti um arrepio e ao ver as imagens dos milhares de pessoas a passar o posto de controlo fiquei comovido e veio-me uma lágrima ao olho.
Abraços

ثم كان هناك ضوء said...

Podem passar mais 20, e outros 20 anos, que os muros e cortinas de ferro que o Homem parece ter facilidade em criar continuarão a surgir. Uns menos duros que outros. Uns menos resistentes do que outros. Outros ainda menos significativos do que outros tantos. Todos eles, muito provavelmente, inúteis. Sempre intransponíveis. Por mais que caiam. Por mais que se voltem a erguer e a cair outra vez.
Nós, a geração dita do futuro, somos educados de forma a encarar as lacunas da nossa história com repugna. Somos levados a pensar em mil modos de solucionar os erros do passado. E os exemplos de meios para atingir fins? Não muitos.
Na verdade uns privilegiados. Nenhum de nós teve de mendigar por pão. Nenhum de nós sentiu frio nas noites geladas de invernos intensos e extensos, onde as únicas quatro paredes de protecção eram feitas de arame farpado. Ninguém viu os braços – quentes – de uma mãe deportados para longe. Ninguém teve de entrar numa fila, só porque no fim dessa certamente alguma coisa se poderia conseguir. 1litro de leite. 1 Ovo. Ainda bem que somos educados com a realidade de que a maldade existe e que persiste. E ainda bem que somos educados a saber lutar contra ela. Na realidade porém, somos também nós educados dentro de muros, onde também as nossas cortinas são de ferro, por mais que invisíveis, por mais que aparentemente transponíveis. Aparentemente. As potências mundiais que governam este nosso mundo são elas próprias muros que não permitem qualquer tipo de avanço ou alteração às dissimetrias abismais e assustadoras que existem entre países. Vivemos de promessas, de esperanças. De castelos feitos no ar. E não caiem nunca esses muros. Essa certeza traz-me à memória uma frase, também ela de esperança (que não caia essa) que há tempos me paira no ouvido: “May the wind always be on your back and the sun upon your face and may the winds of destiny carry you aloft to dance with the stars”.

Auf Wiedersehen.

TS.

* said...

"We don't need no education
We dont need no thought control
No dark sarcasm in the classroom
Teachers leave them kids alone
Hey! Teachers! Leave them kids alone!
All in all it's just another brick in the wall.
All in all you're just another brick in the wall"
(Roger Waters - pink floyd,1979.. sim 79!)

Carla Gonçalves

MRMV said...

Queda -- mas não do muro. O muro não caiu, foi derrubado. Não por fatalidade nem por cobiça do capital eternamente ávido de expansão, mas pela vontade dos homens que se fartaram dele. O binarismo que facilita a fabricação dicotómica do inimigo (que é de todas as épocas), é mais inculcado por correntes com agendas conhecidas, que convivem mal com o pensamento, que coisa natural nos homens, que vivem a vida a cores e não a preto e branco.
Mas tal como os muros se deitam abaixo e as cortinas, mesmo que sejam de ferro, se rasgam aos pedaços, as ideias feitas duram o tempo que os homens as toleram.
Em 9 de Novembro de 1989 acabou simbolicamente em ruína, a golpes de vontade, a divisão contranatura entre a Europa democrática, livre, próspera e a que o não era, e está hoje, incompletamente, mais perto de o ser. Não assentou ainda nem está perto de assentar, a portentosa nuvem nuclear de esperança, inteligência e pura humanidade que de Berlim alastrou mundo fora. Não que outros muros igualmente vergonhosos, igualmente contranatura, igualmente inúteis a não ser como instrumentos de morte e sofrimento, não tenham sido laboriosamente erguidos pela lei do mais forte. Outros, menos visíveis mas nem por isso menos perenes (ou inversamente menos perecíveis) foram erguidos também.
Margaret Thatcher, num momento de candura, disse que a afirmação ritual, que fechava ou abria cada comunicado da Nato dos anos da guerra fria, exprimindo o voto piedoso de acabar com a linha dvisória que cortava a Europa em duas só tinha razão de ser porque ninguém acreditava nisso.
O que espanta nem é tanto a antecipada 'saudade do inimigo', mas a crença na permanência e na imutabilidade das coisas. Como se os frutos da mente e da vontade humana, ideologias, leis iníquas, muros ou cortinas, de ferro ou de betão, por muitas e ferozes as sentinelas, não pudessem ser desmanchados pelas mesmas mãos e pelas mesmas mentes animadas de uma vontade contrária.
O muro não caiu, foi derrubado. A queda foi, fragorosa, a dos que acreditavam que ele era indestrutível.

Jay Cee said...

:)

Jay Cee said...

:)

Unknown said...

Eu também pensei logo, como vários "comentadores" nos muros que restam, porque a história não pode servir só para relembrar mas também para pensar o presente.
Aqui vai portanto uma indicação de livro a consultar: "Des murs et des hommes", Frank Neisse, La documentation française, Paris, 2007.
E uma lista não exaustiva tirada desse livro:
La zone démilitarisée entre les deux Corées
- Un mur-frontière hors du temps
La ligne verte à Chypre
- Une division en Europe
Les "Peacelines" de Belfast
- Des murs dans la ville
Le " Berm " du Sahara occidental
- Les murs de sable du désert sahraoui
Le mur-frontière entre les États-Unis et le Mexique
- Le mur anti-immigration de la " Tercera Nacion "
Les barbelés de Melilla à Ceuta
- Les enclaves espagnoles emmurées au Maroc
La barrière électrifiée au Cachemire
- La ligne de contrôle de l'Inde au Pakistan
Le mur en Palestine
- De la protection à la séparation

http://www.ladocumentationfrancaise.fr/catalogue/9782110068385/index.shtml
CCV

Inoc said...

Dia 09/11/2009, 22:35 horas (hora de Portugal Continental)! Não, não aconteceu nada de especial ou sequer digno de registo, no dia e hora supra indicados, relacionado com o evento histórico que ontem foi recordado, comemorado e amplamente difundido nos mais diversos meios de comunicação social. O facto de incomensurável menor importância e perfeitamente marginal a que me refiro prende-se, tão somente, com uma mensagem (sms)da autoria e proveniência da autora deste blog, suplicando-me - após uma jornada inteira de trabalho a ser alvo de chantagem, coacção na forma tentada e perturbação, na forma consumada, da minha concentração e paz no local de trabalho - para deixar aqui um comentário. Pela insistência e tenacidade da minha Ilustre Colega, decidi aceder ao seu pedido deixando aqui o meu primeiro comentário. Verifico que já diversas opiniões foram expressadas sobre o significado e a simbologia que reveste a queda do muro de Berlim, todas elas válidas e pertinentes, quanto mais não seja porque traduzem, em grande parte, a forma como cada um dos "comentadores" desde blog assimilou, sentiu e viveu, de forma única, muito pessoal e genuína (não obstante a tenra idade de alguns deles) este grande marco histórico, cujas consequências e significado, tal como eu, só agora consegue apreender. Finalmente, para não me alongar mais, dizer que subscrevo inteiramente a ideia já esboçada em diversos comentários que é o facto de ainda haver, infelizmente, muitas barreiras e muros (da vergonha) a derrubar pelo mundo fora. Lamentavelmente o derrube do muro de Berlim, não impediu a posterior edificação de outros muros! Por outro lado, se é verdade que o muro físico já não se encontra a separar a cidade de Berlim, também não é menos verdade que ainda subsistem muitas barreiras e preconceitos a separar a Alemanha "carente" de verdadeira unificação, que demorarão mais alguns anos até se dissaparem totalmente.

Anonymous said...

Echo! Gostei, belo artigo a completar, como diz NLemos , com o visionamento de Good Bye, Lenin ! de Wolfgang Beckerde , mas também de Das Leben der Anderen ( A vida dos outros ) ,de Florian Henckel von Donnersmarck. Aqui fica om link para o trailer de Good Bye , Lenin !.- http://www.imdb.com/video/screenplay/vi4238999833 MR