18 June 2010

PENA DE MORTE -- «Murderer executed in Utah» - AFP

Estou a acabar de ler L'Abolition de Robert Badinter. À superfície está toda a minha repugnância pela pena de morte.
Com grande espanto - ainda que devesse saber melhor - leio a execução de Ronnie Lee Gardner.
Há uma necessária contradição entre "somos defensores dos direitos humanos" e "aplicamos a pena de morte", mais do que contradição é paradoxo! São absolutamente incompatíveis, inconjugáveis tais afirmações.
Quando penso a pena de morte tantos argumentos saltam que se torna difícil começar a proferi-los. Porém, há um que devia vencer mesmo os seus adeptos: a morte de inocentes. Outro que deveria vencer os 'governantes', é o Estado que executa! Se o Estado mata, a lei mata, e se a lei permite o homicídio como executa quem o comete? Poderá haver homicídio legítimo (excluindo naturalmente a legítima defesa)? De forma alguma poderemos qualificar a execução do condenado como exercício da legítima defesa por parte do Estado (mesmo que preventiva)! A morte com a morte? - mesmo em caso de certeza absolutamente absoluta de que aquela pessoa matou aquela outra pessoa (dando o exemplo do homicídio).
Tem de repugnar a pena de morte. Contudo, a muitos não repugna. Passando os olhos por algumas imagens que completam as reportagens à volta da execução de Lee Gardner, não foi a da cadeira onde foi amarrado com um alvo branco no peito que mais me impressionou, foi a de familiares das suas vítimas a sorrirem, a exultarem, quando rejeitado um seu recurso.
Será um sentimento de vingança daqueles que pereceram nas suas mãos? O que importa?
Não há justiça, contrariamente ao que afirma o Utah Attorney General Mark Shurtleff - que anunciu no Twitter "I just gave the go ahead to the Corrections Director to proceed with Gardner's execution. (...)"!
No meio dos próximos das vítimas de Lee Gardner, Donna Nu, disse à CNN:
"Michael was a gentle soul. And he loved people and he loved life. And he would not have wanted Ronnie Lee to be killed, especially in his name." E acrescenta: "I think that we as a human race - - all the brilliant minds we have on this planet - - we could com up maybe with something better."
Como se pode banalizar a vida humana? - interrogação dirigida a todos, incluindo o Estado, que matam e que acham bem que se mate.
O artigo da AFP
«SALT LAKE CITY, Utah (AFP) - A double-murderer became the first American prisoner in 14 years to be executed by firing squad here Friday, shot through the heart by a five-member team of sharpshooters.
Shackled to a chair and with a black hood covering his head, Ronnie Lee Gardner, 49, was gunned down at approximately 12.15 am (0620 GMT) local time in a brightly lit execution chamber at Utah State Prison.
Asked if he had any last words, Gardner replied: "I do not. No."
Utah Department of Corrections director Thomas Patterson told reporters Gardner was pronounced dead two minutes after being shot.
"This is an unusual task but one we have done professionally," Patterson said. "It has been done with absolute dignity and reverence for human life.
"It's been a balancing act of being sensitive to the families who lost loved ones and the family who lost a loved one tonight."
Journalists who witnessed the execution reported seeing Gardner's arm twitch up and down after the firing squad had blasted their 30/30 caliber Winchester rifles at at a small target placed over Gardner's heart.
"It was so sudden, so quick. Boom, boom, just like that. We didn't get a countdown. It happened so quickly," added Marcos Ortiz of KTVX TV.
Gardner's gruesome death was billed as a bloody throwback to the days of Old West justice, the first execution of its kind in the United States for more than a decade and possibly the last ever.
But there was an unmistakably 21st century twist to his final minutes of life when Utah Attorney General Mark Shurtleff used micro-blogging site Twitter to announce he had given the final approval for the execution.
"I just gave the go-ahead to Corrections Department to proceed with Gardner's execution," Shurtleff tweeted shortly before Gardner was shot. "May God grant him the mercy he denied his victims."
Firing squads were outlawed by Utah in 2004 but the ban was not retroactive, allowing Gardner the freedom to opt for the gruesome method instead of lethal injection during a hearing in April.
Gardner had spent 25 years on death row for gunning down an attorney in a failed bid to escape from a court room in 1985 during a murder trial. His case had renewed debate about use of the death penalty in the United States and divided family and friends of his victims.
Loved ones of lawyer Michael Burdell, shot dead by Gardner in his botched escape attempt, have said they were against his execution because Burdell opposed the death penalty.
"Michael was a gentle soul. And he loved people and he loved life. And he would not have wanted Ronnie Lee to be killed, especially in his name," Donna Nu, Burdell's fiance told CNN earlier Thursday.
"I think that we as a human race -- all the brilliant minds we have on this planet -- we could come up maybe with something better."
Gardner's death came after a day which saw his lawyers fail with multiple appeals to have the execution stayed, lobbying Utah Governor Gary Herbert, a federal court in Denver and the US Supreme Court. All three bids were rejected.
"Upon careful review, there is nothing in the materials provided this morning that has not already been considered and decided by the Board of Pardons and Parole or numerous courts," Herbert wrote.
"Mr Gardner has had a full and fair opportunity to have his case considered by numerous tribunals."
The Utah Department of Corrections said Gardner was "relaxed" Thursday, spending the day reading a David Baldacci novel -- "Divine Justice" -- while watching "The Lord of the Rings" fantasy trilogy.
He was served his final meal -- steak, lobster, apple pie, vanilla ice cream and 7-Up -- on Tuesday before choosing to commence a 48-hour fast before his execution for undisclosed reasons.
He met his attorney during the morning, after saying goodbye to his brother and daughter on Wednesday through prison bars.
Gardner requested none of his family members be present at his execution, which was witnessed by a small group of state officials, relatives of Gardner's victims and journalists from local media outlets.»

3 comments:

Anonymous said...

Mais um tema controverso e que jamais alcançará um consenso ou a unanimidade de opinião. Ser ou não a favor da pena de morte? Assisteremos nós num futuro próximo à abolição da pena de morte? Mais do que respostas ou opiniões, a presente notícia levanta e suscita diversas questões, mormente de natureza jurídica, ética e moral. Conforme questão já colocada, terá o Estado legitimidade e, mais do que isso, moral para punir de condenar um homicida que roubou uma ou mais vidas humanas com aplicação da mesma pena? Terá o ladrão que rouba ladrão, cem anos de perdão? Outra questão que se coloca é o método utilizado para executar a pena de morte? Mesmo para aqueles que defendem a manutenção da pena de morte, concordarão eles com este método primitivo e brutal de pôr termo a vida de um ser humano,...,transformando-o num singelo alvo para balas? São paradoxos de uma sociedade moderna e democrática,..., defender a vida com a morte daqueles que não a respeitam,..., defender a paz com o recurso à guerra,..., será que os fins justificam os meios? São mais as perguntas do que as respostas e eu ainda não encontrei as minhas respostas!

Inoc said...

Mais um tema controverso e que jamais alcançará um consenso ou a unanimidade de opinião. Ser ou não a favor da pena de morte? Assisteremos nós num futuro próximo à abolição da pena de morte? Mais do que respostas ou opiniões, a presente notícia levanta e suscita diversas questões, mormente de natureza jurídica, ética e moral. Conforme questão já colocada, terá o Estado legitimidade e, mais do que isso, moral para punir de condenar um homicida que roubou uma ou mais vidas humanas com aplicação da mesma pena? Terá o ladrão que rouba ladrão, cem anos de perdão? Outra questão que se coloca é o método utilizado para executar a pena de morte? Mesmo para aqueles que defendem a manutenção da pena de morte, concordarão eles com este método primitivo e brutal de pôr termo a vida de um ser humano,...,transformando-o num singelo alvo para balas? São paradoxos de uma sociedade moderna e democrática,..., defender a vida com a morte daqueles que não a respeitam,..., defender a paz com o recurso à guerra,..., será que os fins justificam os meios? São mais as perguntas do que as respostas e eu ainda não encontrei as minhas respostas!

Madalena said...

Até fiquei arrepiada quando li...

"a lei mata" resume tudo. Nao ha palavras para descrever o horror que é a pena de morte. E o anuncio no twitter é a prova de que so os deshumanos poderiam cometer tal atrocidade.

A campanha contra a pena de morte é infelizmente muito actual...