A minha mãe relembrou-me de um facto que, não sei muito bem como, havia "esquecido", pelo menos no que respeita à dimensão.
No Ruanda foram assassinadas mais de 500.000 pessoas! - há quem fale em 1 milhão de mortes (o que representa aproximadamente 20% da população!!).
A estratégia de colocar os Hutus contra os Tutsis funcionou na perfeição e o extermínio - que começou pelos próprios Hutus que não eram a favor da limpeza étnica - irrompeu.
E a Europa? E os Estados Unidos? E o Mundo? O que fizeram enquanto eram brutalmente assassinadas mais de 500.000 pessoas? Tenho-os como cúmplices, por negligência. Afinal, a condenação de Desire Munyaneza não tem o valor que ingenuamente atribuí. Claro que a culpa do "mundo" não exclui a dele, nem a sua exclui a do "mundo", porém não deixam de mais ou menos "saírem impunes" alguns dos "culpados", sem prejuízo de ser de louvar que "um" (entre outros que também o foram) tenha sido julgado e, porque culpado, condenado.
O link do site "Human Rights Watch" é bastante elucidativo:
Por vezes uma imagem vale mais do que infinitas palavras...não foi fácil optar pelas várias que se descobrem na Internet...procurei uma imagem "esclarecedora" de entre as que consigo ver...
Source: google
Um excerto de um texto tão simples e tão 'completo':
"On April 6 1994 the plane carrying Rwanda's president was shot down, almost certainly the work of an extremist. This was the trigger needed for the Hutus' planned 'Final Solution' to go into operation. The Tutsis were accused of killing the president, and Hutu civilians were told, by radio and word of mouth, that it was their duty to wipe the Tutsis out. First, though, moderate Hutus who weren't anti-Tutsi should be killed. So should Tutsi wives or husbands. Genocide began."
@ http://www.ppu.org.uk/genocide/g_rwanda.html
À medida que vou aprofundando conhecimentos vou ficando cada vez mais espantada e chocada tanto com a crueldade como com a 'passividade' com que aquela é vista e com a consequente inacção.
Não deixo de ter esperança que a Europa e o resto do Mundo não esqueçam o passado e, ainda que o seja sempre num 'futuro', façam jus à memória dos que morreram.
Não deixo de ter esperança que a Europa e o resto do Mundo não esqueçam o passado e, ainda que o seja sempre num 'futuro', façam jus à memória dos que morreram.
2 comments:
Talvez um dos aspectos mais interessantes da (muito incompleta) universalização dos direitos do homem seja a progressiva 'mundialização'da justiça. Sem estar exactamente a par dos motivos por que o genocídio no Rwanda chegou a um tribunal canadiano sem passar pelo crivo do tribunal internacional especial, é um bom princípio que não haja, para os mais graves atentados aos direitos do homem, refúgio nem possibilidade de escapar ao longo braço da Lei -- pelo menos nos países democráticos -- para os violadores.
Desafio aos 'discípulos' deste blog: em que ponto está a Europa, para além dos conhecidos casos da Espanha e da Bélgica, relativamente à faculdade de os tribunais punirem violações graves dos direitos do homem, e.g. julgarem crimes de genocídio, objecto de convenção internacional, independentemente do ponto do mundo em que foram cometidos, e qual a relação das jurisdições nacionais com a nacionalidade das vítimas?
O antigo Presidente Bill Clinton escreveu na suas memórias que uma das coisas de que mais se arrependia, dos anos do seu mandato, era de não ter tudo feito, que estava ao seu alcance, para impedir o genocídio no Rwanda. O mesmo tem dito Kofi Annan, então alto-funcionário das Nações Unidas, reponsável pelas operações de paz. Anos mais tarde declarou:
“The international community is guilty of sins of omission…
The international community failed Rwanda and that must leave us always with a sense of bitter regret …I believed at that time that I was doing my best, but I realised after the genocide that there was more that I could and should have done to sound the alarm and rally support."
Honra lhe seja feita, que quando assumiu o cargo de Secretário Geral fez tudo o que estava ao seu alcance para colocar a questão da protecção dos civis no centro das preocupações da Nações Unidas. A responsabilidade da comunidade internacional de proteger as pessoas ameaçadas de genocídio foi objecto da cimeira Mundial de 2005, que aprovou a doutrina da responsabilidade de proteger, conhecida como R2P (responsibility to protect). R2P é uma nova norma da segurança internacional e dos direitos humanos, que procura, exactamente, resolver as razões dos fracassos sucessivos da comunidade internacional para prevenir ou conter o genocídio, os crimes de guerra, a limpeza étnica e os crimes contra a Humanidade. Mas, como tem sido afirmado por muitos, não basta aprovar uma doutrina, é preciso criar os mecanismos necessários para prevenir e agir, militarmente se for necessário e, em estados soberanos, que pensam que as suas “fronteiras são muralhas”, como disse Kofi Annan, dentro das quais eles podem praticar, impunemente, os piores crimes contra os direitos do Homem. Para resolver este deficit o actual Secretário Geral, Ban Ki-moon, encomendou ao seu conselheiro especial, Edward Luck, um relatório, que encontra oposição nos Estados mais apegados ao princípio da soberania. É um debate fundamental onde todos deviam intervir, não só os Estados, mas também os cidadãos.
Post a Comment