12 February 2010

20 anos depois

Parece que foi ontem que havia um abismo infindável entre as duas cores da África do Sul. 
A libertação de Nelson Mandela, marcou, sem sombra de dúvida, o 'fim' do Apartheid (ainda que não tenha sido concomitante), mas 20 anos depois (e 16 anos depois do 'fim' do Apartheid) não deixa de haver diferença entre as duas cores...Parece que gira em torno do mesmo, 'do outro', com a distinção, no caso da África do Sul que 'o outro' é a maioria e não a minoria. A miséria é ainda extrema e, como se lê no final do artigo da Aljazeera - South Africa's hopes 20 years on "Mandela spoke of equality for all South Africans when he walked out of Victor Verster prison. But two decades later some here are still waiting for his words to come true."
É interessante ver a recepção de Nelson Mandela no Parlamento @ BBC e relembrar a sua libertação em 1990 também @ BBC - Archive: Nelson Mandela freed from prison after 27 years

Em 20 anos notamos avanços brutais na ciência e tecnologia e ainda assim não conseguimos combater o mais básico dos problemas: a fome.

9 February 2010

Por MR - comentário aos posts sobre o racismo

De facto, como diz Celso Lafer, não há raças de um ponto de vista científico, mas, no entanto, o racismo existe e com ele as “raças”. Quem faz a raça é o racismo, como bem demonstra Jean Paul Sartre , na “Questão Judaica” - o judeu não era, antes da II Guerra Mundial, quem se identificava como tal, mas eram os outros que o definiam como judeu. O mesmos se passa hoje em muitas regiões da Europa com os muçulmanos, muitas vezes tão cidadãos franceses, alemães ou holandeses, como os demais, mas vítimas de uma identificação abusiva como 'o' “outro”.  É a recusa do que parece diferente, uma forma que os racistas usam para afirmar a sua superioridade e a da pequena comunidade a que eles pensam pertencer.


Numa canção do Tom Waits, os vizinhos olham com desconfiança para um indivíduo “demasiado normal” e perguntam:

What's he building in there?
What the hell is he building
In there?
He has subscriptions to those
Magazines... He never
Waves when he goes by
He's hiding something from
The rest of us... He's all
To himself... I think I know
Why... He took down the
Tire swing from the Peppertree
He has no children of his
Own you see... He has no dog
And he has no friends and
His lawn is dying... and
What about all those packages
He sends. What's he building in there?
With that hook light
On the stairs. What's he building
In there... I'll tell you one thing
He's not building a playhouse for
The children what's he building
In there?:

Now what's that sound from under the door?
He's pounding nails into a
Hardwood floor... and I
Swear to god I heard someone
Moaning low... and I keep
Seeing the blue light of a
T.V. show...
He has a router
And a table saw... and you
Won't believe what Mr. Sticha saw
There's poison underneath the sink
Of course... But there's also
Enough formaldehyde to choke
A horse... What's he building
In there. What the hell is he
Building in there? I heard he
Has an ex-wife in some place
Called Mayors Income, Tennessee
And he used to have a
consulting business in Indonesia...
but what is he building in there?
What the hell is building in there?

He has no friends
But he gets a lot of mail
I'll bet he spent a little
Time in jail...
I heard he was up on the
Roof last night
Signalling with a flashlight
And what's that tune he's
Always whistling...
What's he building in there?
What's he building in there?

We have a right to know


Tony Morrison, no seu lindíssimo livro Paradise, conta a história de uma comunidade negra, que faz da sua identidade pura uma dádiva divina e considera que todos os males que lhe acontecem, nomeadamente uma juventude pouco respeitosa de Deus, não pode vir do seu seio, mas tem de vir ‘dos outros’. ‘Os outros’ neste caso são um grupo de pacíficas mulheres livres que vivem num convento abandonado e aquela comunidade acaba por assassinar…
A resposta a esta paranóia, por vezes assassina, está na “hospitalidade”, ou seja, aceitar o “diferente”, na sua individualidade própria, como igual na nossa casa - a das ideias e da vida quotidiana.
Não há hoje combate mais importante na Europa.

Como se cala quem a verdade procura?

A China não deixa de ser famosa pelo respeito que tem à liberdade, em geral, e à liberdade de expressão em particular. 
Na Aljazeera é reportado mais um caso, este um tanto ao quanto peculiar. 
«A Chinese activist who had been investigating the deaths of thousands of schoolchildren in the 2008 Sichuan earthquake has been sentenced to five years in jail.» Ah! Afinal também tem a ver com Tinanmen, 1989. Tudo muito confuso, mas tudo muito explícito: a liberdade na China, a existir, é mais do que relativa. 
A verdade não deveria ser algo a esconder, mas antes a revelar, sobretudo quando em causa está a vida de tantas pessoas. 
A impotência dos demais é frustrante e meios parecem inexistir para a combater...
@ Aljazeera "China jails quake activist"

5 February 2010

"My brother used to tell me that the place for a women is either at home or in the grave.."

A cruel realidade dos Taliban, contada por uma criança de 13 anos, cuja irmã, de 9 anos, foi o meio para atingir um fim: bomba.
Nunca tinha pensado que as crianças tinham, entre os Taliban, aquele fim. 
Não consigo deixar de pensar na hipocrisia daqueles que recrutam pessoas para serem suicidas. Falam-lhes do paraíso, em como estão a servir uma 'causa maior', em como o sacrifício das suas vidas é uma 'honra', mas a si próprios (recrutas e "chefes") não é atada bomba nenhuma! Claro que não poderá haver usurpação de funções, longe deles quererem ocupar o lugar que não lhes pertence ao ponto egoísta de privarem outro do destino e fim últimos: a morte para a morte.
E, por mais que tente, não consigo de forma alguma perceber porque é que para matarem têm de usar pessoas. Não quero, de forma alguma, com isto dizer, que acho bem que matem, mas assassinos há muitos e das mais variadas espécies, terroristas também os haverá...mas porquê usar pessoas? Pessoas que, como conta Meena, são, por vezes, da sua própria família! Uma mãe assiste ao procedimento..colocação e fixação das bombas no corpo da sua filha de 9 anos, enquanto o seu marido e outro filho lhe explicam que ainda que a bomba seja pesada se sentirá muito mais confortável quando estiver no carro...e que tem uma sorte incalculável porque vai para o Paraíso antes deles...a mãe  desmaia quando ouve a sua filha a chorar por ela...porque é que permite? Se está aflita e em sofrimento angustiante é porque não concorda com tal filosofia, mas então porque é que não foge, tal como fiz Meena?

3 February 2010

Racismo, Cuba

Quando pensamos em Cuba não pensamos, fundamentalmente, em 'racismo'. 
Esteban Morales (investigador) afirma "Even in Cuba today, being poor and white is not the same as being poor and black.". 
De acordo com estudos realizados, "more than 60 per cent of Cuba's population of 11.2 million people is not white [but instead either black or of mixed race]" - afirma.
Na entrevista que dá à Aljazeera ['Race still an issue in Cuba']debate alguns pontos, como seja o das medidas a tomar para que o assunto seja considerado pelo poder e acções positivas sejam encetadas por forma a discriminar positivamente os 'não brancos'.
A pobreza sem dúvida é um problema - que não é, de forma alguma, exclusivo a Cuba - do conhecimento de todos, porém o racismo entre pobres não sei se será um dado adquirido pela generalidade das pessoas.
Muitos dizem que quando se fala em racismo, mesmo na vertente de o combater está-se a ser, implicitamente, racista...discordo, discutir uma questão não equivale a praticar o que se aborda.
Poderíamos discutir aqui o próprio conceito, como o fez Celso Lafer, e veríamos que é extremamente polémico. A própria definição de raça e a sua discussão é melindrosa e Celso Lafer nega a sua 'existência' - pode ler-se um breve resumo do parecer que deu ao STF @ O STF e o racismo: o caso Ellwanger. Brilhantemente afirma "(...) Com efeito, os judeus não são uma raça. Mas não são igualmente uma raça os brancos, os negros, os mulatos, os índios, os ciganos, os árabes e nenhum outro integrante da espécie humana." «Nas palavras da ementa do acórdão, da qual foi relator o ministro Maurício Corrêa, cuja lúcida atuação neste caso foi decisiva: "Com a definição e o mapeamento do genoma humano, cientificamente não existem distinções entre os homens, seja pela segmentação da pele, formato dos olhos, altura, pêlos ou por quaisquer outras características físicas, visto que todos se qualificam como espécie humana. Não há diferenças biológicas entre os seres humanos. Na essência são todos iguais."» Todavia, tal não impede que os seres humanos sejam vítimas da prática de racismo, como se verifica na generalidade dos países e, no caso que trago, em Cuba. 

Pergunto: como combater o racismo?