3 November 2009

O poder da "Causa"

Vinda da Galiza, entra amanhã em Portugal a "Marcha Mundial pela Paz e a Não-Violência".
Os objectivos dos promotores deste evento, como se poderá constatar na comunicação social, são, no mínimo, ambiciosos: "a eliminação das armas nucleares; retirada imediata de tropas invasoras de territórios ocupados; progressiva e proporcional redução de armas convencionais".
A marcha a pé, em Portugal, tem entrada em Valença do Minho, seguindo-se as passagens por Viana do Castelo, Braga, Famalicão, Porto, Aveiro, Vouzela, Viseu, Coimbra, Tavira e Lisboa.
Ora, este é um tema que pouca oposição encontrará (afinal quem no seu prefeito juízo gosta de guerra, violência e destruição?) e muito apoio necessita a nível mundial. Compreendo o seu cerne, mas comecei a indagar: E o povo espanhol e português, para além de um sonho utópico a curto prazo, contra quê protestarão que realmente faça sentido numa Península Ibérica? Ao fim e ao cabo, Portugal e Espanha não possuem, nem pretendem possuir armas nucleares; o nosso País nem sequer tem centrais nucleares para produção de electricidade... Será que a necessidade por uma causa - por uma marcha que não seja realizada por sindicatos de trabalhadores - é assim tão grande? Realmente como fui relembrada, não há qualquer marcha por uma “causa” em Portugal desde os saudosos tempos das mãos dadas por Timor!! E os portugueses são saudosistas, marcados pelo fado, são os chorosos na TV que “partilham a dor de outros povos”, que se unem aos milhares pela “causa”....para depois irem tomar um cafézito ali na esquina e se esquecerem por que razão marcharam no dia anterior! Mas sim, fazemos uma bonita figura naquelas horas de marcha silenciosa (ou não), mas sempre pacífica, pela dor dos outros... Não me interpretem mal, sou a favor do apoio a causas maiores que nós, causas universais, sim ainda acredito que o gesto de um faz a diferença...
Porém, isso não me impede de procurar limar todas as interpretações desta marcha, principalmente na pacífica Península Ibérica. Afinal, qual a sua interpretação prática para o povo português? Sim porque, por muito fado que nos corra na veia, o povo une-se mais quando existe uma ligação afectiva à "causa"... Foi-me então relembrado que para além da Paz - via desamarmento nuclear e redução de armas - existe uma ideia intrínseca à marcha que imediatamente se liga ao povo português...a retirada dos militares espanhóis e portugueses no Afeganistão!! Ora, sim, li “armas nucleares” e esqueci totalmente o outro objectivo da marcha, a “retirada imediata de tropas invasoras de territórios ocupados”.
É este o ponto que "mexe" com o povo português numa nota mais directa, o retorno das suas tropas...Portanto esta marcha pela paz, em plena Península Ibérica, é na realidade um apoio à retirada imediata das tropas “ibéricas” de um país onde se luta pela Liberdade e contra o regresso de um poder talibã, que apenas poderá ser descrito como 'bárbaro'. O enfraquecimento da NATO, a devolução de um poder enfraquecido a um povo sem qualquer poder per si....?? Podemos nós ser considerados tropas invasoras? E o Afeganistão um território ocupado?
Realmente somos tropas, encontramo-nos em território que não é nosso e sim ocupamos parte do Afeganistão...Recuso-me a ver as nossas tropas como invasoras. Somos pró paz!! Assim, marchamos por uma ideologia universal - PAZ!! E quem sou eu para negar algum gesto pela PAZ? Se puder irei, mas apenas pela paz e não por uma qualquer deformada ideia das NOSSAS tropas, que fique bem claro....
E pensar que iria só porque ouvi a palavra paz. A mim basta-me, a Paz é fundamento mais do que suficiente para marchar, mas não quero que interpretem o meu motivo que é um único: a paz, sem dar azo a quem quer deturpar o sentido da mesma...

1 comment:

M. said...

Não sei pelo que marcharão os portugueses que marcharem, se pela paz, se pelo desarmamento nuclear, se pela retirada das tropas portuguesas em várias missões....
A campanha pelo desarmamento nuclear, por si só, é, para mim, motivo mais do que bastante. Não interessa onde estão as armas, não interessa a quem a elas tem acesso, não interessa os pontos concretos de alcance. Interessa que as há, interessa que são altamente letais, interessa que podem ser utilizadas, interessa, na perspectiva do desarmamento, que se ninguém a elas tiver acesso ninguém as utilizará.

O "fracasso" da NATO no Afeganistão ter-se-á também devido aos objectivos megalómanos a que se propuseram. Se o célebre «artigo 5º» permitiu a invasão - se a legítima defesa foi o fundamento oficial - o plano não foi muito bem estruturado e não menos verdade será que do ponto de vista militar e do ponto de vista político (as eleições foram um verdadeiro fiasco) a NATO perdeu.

Uma manifestação pela «paz» terá certamente, para cada um daqueles que marchar, um (diferente) significado...